Wicca e Polaridade
Muito se discute sobre a presença de homossexuais na Wicca, em função
das alegações de Gerald Gardner que dizia que a homossexualidade não
tinha lugar na Arte. Para chegarmos à uma conclusão pessoal sobre as
afirmações de Gardner, temos que levar em consideração que ele era fruto
de sua época. Na década de 40/50 a homossexualidade era considerada uma
doença mental e crime, passível de prisão. A ligação de uma religião, tão
mal vista como a Wicca, com a homossexualidade seguramente não seria bem
aceita pela opinião pública. Logo, é natural que ele afirmasse que a
homossexualidade não tinha lugar na Wicca não só porque era crime mas
porque a própria Arte estava no seu processo de construção e busca da
identidade. O conceito das polaridades tem sido tema central para os
muitos caminhos da Wicca desde aquela época e ele tem sido usado como uma
explicação para tentar manter os Gays fora dos caminhos da Wicca. As
afirmações mais vistas e lida sem livros sobre a Wicca geralmente afirmam
frase como:
"Deusa e Deus, Feminino e Masculino,
cuja interação cria o mundo, as estações e toda realidade manifesta”
Onde os gays, e eu me incluo nesse grupo, se encaixam nisso tudo? Há
uma conspiração em curso na Wicca para negar às minorias sexuais uma
religião e Tradição Mistérica própria? É hora de reavaliarmos as
afirmações sobre polaridade tão comuns nos livros de Wicca, pois isso tem
limitado em muitos pontos a nossa experiência espiritual e nossa relação
com os Deuses. A primeira coisa que precisamos compreender é que apesar
de se expressarem através de nós, a Deusa e o Deus não são seres humanos.
Eles existem no reino do Espírito e são personificações das forças
abstratas do Universo. Classificá-los apenas como masculino e feminino é
limitá-los à nossa experiência humana e humanizá-los ao extremo. Deusa e
Deus não são humanos, nem forças opostas. São elementos complementares de
uma mesma coisa, extremos de uma mesma escala! Por que devemos nos
limitar apenas a duas forças para explicar ou tentar entender a criação
de energia e vida em nossa religião? A teoria das polaridades fala
basicamente da união dos opostos para criar energia seja ela mágica ou
não. Esse pensamento simplista, utilizado por Gardner e muitos outros
magistas para fundamentar suas teorias, poderia ser verdadeiro no século
passado, mas atualmente é considerado ultrapassado de muitas maneiras. O
conceito de energia baseado na polaridade masculina/feminina ou em pares
de opostos é demasiadamente limitante e antigo. Nem mesmo a Ciência
classifica as coisas mais dessa maneira. Atualmente são consideradas 5
tipos de forças: a carga, a freqüência, a voltagem, a fase e a força
composta. A carga é a atração de contrários no sentido do norte magnético
ao sul magnético, e repulsão de energias semelhantes. A carga é o tipo de
força mais usualmente possível de ser entendido em nossa cultura. Neste
tipo de força, o intercâmbio da energia se apóia sobre diferenças da
valência e da síntese. A freqüência depende se a atração for do mesmo
gênero ou gênero oposto, como a relação entre a mesma nota musical em
diversas oitavas ou como as notas que são parte do mesmo acorde. Neste
tipo de força, o intercâmbio da energia se apóia sobre intervalo e as
semelhanças da proporção e ressonância, alto e baixo, harmonia e dissonância.
A voltagem surge das forças centrípetas e centrífugas em equilíbrio com a
atração gravitacional. Aqui, o intercâmbio da energia se apóia sobre
congruências do movimento para forçar o movimento, à direita, à esquerda,
e a inércia. Na fase, o intercâmbio da energia se apóia sobre o reforço e
interferência. Ela traz as formas de onda conjuntas de modo que a onda
alcance picos para aumentar a amplitude ou de modo que os picos se
emparelhem o para alcançar o equilíbrio zero no caso da atração oposta. A
quinta força é uma síntese ou um composto dos quatro tipos mencionados, a
Força Composta que consiste na combinação da carga e da voltagem. Todas
essas formas de força podem ser geradas pela sinergia. A sinergia é
junção harmônica de forças iguais que quando unidas se tornam mais fortes
do que qualquer uma dessas forças sozinhas, que em conjunto aumenta seu
potencial de ação para gerar energia. Gays quando trabalham magia podem
não usar a estrutura das polaridades para gerar energia, mas
indiscutivelmente podem se valer da sinergia para isso. Assim, sua forma
de fazer magia é tão efetiva quanto qualquer outra que use os pares de
opostos. Assim, dizer que gays não podem praticar a Arte porque não podem
criar energia para ser canalizada para um objetivo específico porque não
se relacionam sexualmente com pessoas do sexo oposto é um ato de
ignorância extrema. Temos que pensar além do gênero para ampliar nossa
visão sobre o tema. Masculino e feminino é apenas uma entre as muitas
formas de polaridades que incluem, mas não se limitam a:Ativo /
PassivoQuente / FrioPositivo/NegativoClaro/ EscuroDia / NoiteBem /
MalEnvio / RecepçãoGuerra/ PazSol/ LuaCada um desses pares de opostos
está além de ser masculino ou feminino e vive e atua tanto em homens
quanto em mulheres. Desta forma, masculino ou feminino não estão
diretamente ligados a um padrão ou outro de energia. Encontramos Deuses
lunares e Deusas solares, Deusas da guerra e Deuses da paz. A oposição
energética não está no gênero, mas no padrão e/ou comportamento que cada
indivíduo assume ao lidar com uma energia ou outra. Gardner algumas vezes
afirmou que gays eram uma abominação, um aborto da natureza e que não
poderiam praticar Wicca porque a união de duas pessoas do mesmo sexo não
gera vida. O quanto essa afirmação se encaixa no mundo atual? Insiste-se
em um equilíbrio de Masculino/Feminino para gerar energia e dar vida aos
rituais, enquanto a maioria das pessoas segue usando preservativos, anti
concepcionais e diafragmas em suas práticas mágicas. Que vida está sendo
gerada com essa atitude? Isso nos leva a uma importante observação:
Ignora-se totalmente que algumas pessoas são inférteis por razões
fisiológicas! Assim, a união do masculino e feminino não gera
necessariamente a vida! Pessoas inférteis, por mais que sejam
heterossexuais, não podem gerar vida através de suas relações sexuais.
Temos aqui 2 questionamentos cruciais:
1. Se gays são excluídos de alguns grupos por não gerarem vida
através de suas relações sexuais, assim também deveriam ser os
heterossexuais que são incapazes de gerar vida por problemas
fisiológicos?
2. Um gay fértil que não se une sexualmente com o sexo oposto deve
ser aceito em grupo porque não é infértil, enquanto o heterossexual com
problemas fisiológicos deve ser excluído por sua infertilidade?
Fecundidade é o que a maioria das visões pagãs deseja enfatizar, mas
EXISTEM outras realidades. É tempo de examinarmos um novo paradigma para
nossa religião.
Há fecundidade da inspiração. Há também fecundidade para achar
soluções. A fecundidade fisiológica existe da mesma forma, mas ela não é
a única. A fecundidade não conhece limites. Há fecundidade em todos os
seres e ela se chama criatividade! Será por isso que os gays estiveram em
sua maioria sempre criando arte de uma ou outra maneira? Seria isso a
capacidade de transformar a fecundidade, uma vez fisiológica, em
criativa? Vale a pena levar tudo isso em consideração quando se considera
o que Gardner disse como o Canon da
Wicca. Como todos ele era um homem falho, limitado aos pensamentos,
comportamentos, valores e conhecimentos científicos disponíveis em sua
época. Uma religião deve estar em constante evolução, se adaptando e
sendo renovada à cada descoberta e avanço da sociedade.
(Fonte:
Claudiney Prieto)
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