Deus
dirige o destino de José
DEUS DIRIGE OS DESTINOS
DE JOSÉ, FILJO DE JACÓ E, POR SEU INTERMÉDIO,OS DE ISRAEL
Ora, Israel amava
José mais que todos os seus outros filhos, porque o gerara na velhice;
fez-lhe uma túnica talar. Vendo, pois, seus irmãos que ele era amado pelo
pai mais que todos os outros filhos, odiaram-no, e não lhe podiam falar
com bom modo. Sucedeu também que ele referiu a seus irmãos um sonho que
tivera; o que foi causa de maior ódio. Disse-lhes: Ouvi o sonho que eu
tive: Parecia-me que atávamos no campo os feixes, e que o meu feixe como
que se erguia, estava direito, e que os vossos feixes, estando em roda,
se inclinavam diante do meu, adorando-o. Responderam seus irmãos:
Porventura serás nosso rei? ou seremos sujeitos ao teu domínio? Estes
sonhos, pois, e estas conversas acenderam mais a inveja e o ódio. Teve
ainda outro sonho, o qual referiu a seus irmãos, dizendo: Vi em sonhos
que o sol, a lua e onze estrelas como que me adoravam. Ora, tendo ele
contado isto a seu pai e aos irmãos, seu pai repreendeu-o, e disse: Que
quer dizer este sonho que tiveste? Porventura eu, tua mãe e teus irmãos
te adoraremos, prostrados por terra? Seus irmãos, portanto, tinham-lhe
inveja; porém, o pai meditava a coisa em silêncio.
Gênese,
37, 3-11
JOSÉ, O CHEFE DOS
COPEIROS E OS CHEFES DOS PADEIROS DO FARAÓ
Depois disto,
aconteceu que dois eunucos, o copeiro do rei do Egito e o padeiro,
pecaram contra o seu senhor. O Faraó, irado contra eles (porque um
presidia aos copeiros, outro aos padeiros), mandou-os lançar no cárcere
do general do exército no qual estava também preso José.
O guarda do
cárcere entregou-os a José que também os servia. Tinha decorrido algum
tempo, desde que eles estavam encarcerados na prisão. Ambos, numa mesma
noite, tiveram um sonho, que por sua interpretação se referia a eles.
Tendo ido José junto deles pela manhã, e vendo-os tristes, interrogou-os,
dizendo: Por que razão está hoje o vosso semblante mais triste que o
costumado? Eles responderam: Tivemos um sonho, e não há quem no-lo
interprete. José disse-lhes: Porventura não pertence a Deus a
interpretação? Contai-me o que vistes. O copeiro-mor foi o primeiro que
contou o seu sonho: Eu via diante de mim uma cepa, na qual havia três
varas, crescer pouco a pouco em gomos, e, depois, dar flores,
amadurecerem as uvas; e eu tinha a taça do faraó na minha mão; tomei as
uvas, espremi-as na taça, que tinha na mão, e apresentei de beber ao
faraó. José respondeu: A interpretação do sonho é esta: As três varas são
três dias ainda, depois dos quais se lembrará o faraó dos teus serviços,
e te restituirá ao antigo cargo; tu lhe apresentarás a taça conforme o
teu ofício, como costumavas fazer antes. Somente lembra-te de mim, e usa
para comigo de compaixão, quando fores feliz, e solicita ao faraó que me
tire deste cárcere, porque, por fraude, fui tirado da terra dos hebreus,
e, estando inocente, fui lançado nesta fossa. Vendo p padeiro-mor
que tinha interpretado sabiamente o sonho, disse: Também eu tive um
sonho: (Parecia-me) ter três cestos de farinha sobre a minha cabeça, e
que, no cesto que estava mais alto, levava todos os manjares, que a arte
do padeiro pode preparar, e que as aves comiam dele.
José respondeu: A
interpretação do sonho é esta: Os três cestos são três dias ainda, depois
dos quais o faraó mandará tirar-te a cabeça, e te suspenderá em uma forca
e as aves devorarão as tuas carnes.
Com efeito, três
dias depois, era o dia do nascimento do faraó, o qual, dando um grande
banquete aos seus criados, se lembrou à mesa do copeiro-mor e do
padeiro--mor. Restituiu um ao seu lugar, para lhe ministrar a taça; e
mandou suspender o outro num patíbulo, pelo que foi comprovada a verdade
do intérprete. E, não obstante sucederam-lhe prosperamente as coisas, o
copeiro-mor esqueceu-se do seu intérprete.
Gênese,
40, 1-23
In
“O livro dos sonhos” de Jorge Luis Borges
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