O que são as indulgências?
Antes de explicar o que são as indulgências, vamos mostrar que a Igreja
ensina esta doutrina sem hesitação.
O Catecismo da Igreja (CIC) afirma que:
“Pelas indulgências, os fiéis podem obter para si mesmos e também para as
almas do Purgatório, a remissão das penas temporais, seqüelas dos
pecados.” (CIC, 1498) O Papa Paulo VI (1963´1978), na Constituição Apostólica
Doutrina das Indulgências (DI), ensina com clareza toda a verdade sobre
esta matéria. Começa dizendo que: “A doutrina e o uso das indulgências
vigentes na Igreja Católica há vários séculos encontram sólido apoio na
Revelação divina, a qual vindo dos Apóstolos “se desenvolve na Igreja sob
a assistência do Espírito Santo”, enquanto “a Igreja no decorrer dos
séculos, tende para a plenitude da verdade divina, até que se cumpram
nela as palavras de Deus (Dei Verbum, 8)”. ( DI, 1) Assim, fica claro que
as indulgências têm base sólida na doutrina católica (Revelação e
Tradição) e, como disse Paulo VI, “se desenvolve na Igreja sob a
inspiração do Espírito Santo”.
A ORIGEM DAS INDULGÊNCIAS
O uso das indulgências teve sua origem já nos primórdios da Igreja. Desde
os primeiros tempos ela usou o seu poder de remir a pena temporal dos
pecadores. Sabemos que na Igreja antiga dos primeiros séculos, a
absolvição dos pecados só era dada aos penitentes que se acusassem dos
próprios pecados e se submetessem a uma pesada penitência pública; por
exemplo, jejum de quarenta dias até o pôr do sol, trajando-se com sacos e
usando o silício, autoflagelação, retirada para um convento, vagar pelos
campos vivendo de esmolas, etc., além de ser privado da participação na
Liturgia eucarística e na vida comunitária. Isto era devido ao “horror”
que se tinha do pecado e do escândalo. Aquele que blasfemasse o nome de
Deus, da Virgem Maria, ou dos santos, ficava na porta da igreja, sem
poder entrar, sete domingos durante a missa paroquial, e, no último
domingo ficava no mesmo lugar sem capa e descalço; e nas sete sextas´
feiras precedentes jejuava a pão e água, sem poder neste período entrar
na igreja. Aquele que rogasse uma praga aos pais, devia jejuar quarenta
dias a pão e água... Essas pesadas penitências, e outras, tinham o
objetivo de extinguir no penitente os resquícios do pecado e as más
inclinações que o pecado sempre deixa na alma do pecador, fazendo´o
voltar a praticá-lo. Na fase das perseguições dos primeiros séculos,
quando era grande o número de mártires, muitos cristãos ficavam presos e
aguardando o dia da própria execução. Surgiu nesta época um belo costume:
os penitentes recorriam à intercessão dos que aguardavam presos a morte.
Um deles escrevia uma carta ao bispo pedindo a comutação da pesada
penitência do pecador; eram as chamadas “cartas de paz”. Com este
documento entregue ao bispo, o penitente era absolvida da pesada
penitência pública que o confessor lhe impusera, e também da dívida para
com Deus; a pena temporal que a penitência satisfazia. Assim, transferia-se
para o pecador arrependido, o valor satisfatório dos sofrimentos do
mártir.
Desta forma começou o uso da indulgência na Igreja.
Muitas vezes os penitentes não tinham condições de saúde suficiente para
cumprir essas penitências tão pesadas; e isto fez com que a Igreja, com o
passar do tempo, em etapas sucessivas e graduais, fosse abrandando as
penitências. Na idade média, a Igreja, com a certeza de que ela é a
depositária dos méritos de Cristo, de Nossa Senhora e dos Santos, o
chamado “tesouro da Igreja”, começou a aplicar isto aos seus filhos
pecadores. Inspirados pelo Espírito Santo, os Papas e Concílios, a partir
do século IX, entenderam que podiam aplicar esses méritos em favor dos
penitentes que deviam cumprir penitencias rigorosas. Assim, surgiram as
“obras indulgenciadas”, que substituíam as pesadas penitencias. O jejum
rigoroso foi substituído por orações; a longa peregrinação, por pernoitar
em um santuário; as flagelações, por esmolas; etc.. A partir daí, a
remissão da pena temporal do pecado, obtida pela prática dessas “obras
indulgenciadas”, tomou o nome de “indulgência”. Nos exemplos das pesadas
penitências públicas citadas acima, elas eram substituídas,
respectivamente, por uma indulgência de sete semanas e por uma
indulgência de 40 dias; por isso as indulgências eram contadas em dias,
semanas e meses, porque assim, eram também contadas as penitências
públicas. Com a reza do Terço, por exemplo, em qualquer dia do mês de
outubro, se ganhava a indulgência de sete anos. No século IX, os bispos
já concediam indulgências gerais, isto é, a todos os fiéis, sem a
necessidade da mediação de um sacerdote. Assim, os bispos estipularam que
realizando certas obras determinadas, os fiéis poderiam obter, pelos
méritos de Cristo, a remissão das penas devidas aos pecados já
absolvidos. É preciso compreender que esta prática não se constituía em
algo mecânico; não, o penitente, ao cumprir a obra indulgenciada devia
trazer consigo as mesmas disposições interiores daquele que cumpria no
passado as pesadas penitências, isto é, profundo amor a Deus e repúdio
radical de todo pecado. Sem isto, não se ganharia a indulgência. Com o
passar do tempo, e principalmente por causa da “questão das indulgências”
no tempo de Martinho Lutero (explicado adiante), no século XVI, as
indulgências foram ofuscadas e tornaram-se objeto de críticas. No
entanto, após o Concílio Vaticano II (1962´65), o Papa Paulo VI reafirmou
todo o seu valor, na Constituição Apostólica Indulgentiarum Doctrina,
onde quis claramente mostrar o sentido profundo e teológico das
indulgências; incitando os católicos ao espírito de contrição e
penitência que deve movê-los ao realizar as obras indulgenciadas,
removendo toda a aparência de mecanicismo espiritual que no passado
aconteceu.
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