O TEMPLO, A CIDADE, OS
ARQUETIPOS, O SONHO
Lugar sagrado por
excelência, o templo tinha um protótipo celeste. No monte Sinai Jeová
mostra a Moisés a "forma" do santuário que deverá
construir-lhe: "E me farão um santuário, e eu habitarei no meio
deles, conforme em tudo ao modelo do tabernáculo que eu te mostrarei; e
ao de todos os meus vasos para o culto; e o farei deste modo;..."
(Êxodo, 25, 8-9). E quando Davi entrega ao seu filho Salomão o plano dos
edifícios do templo, do tabernáculo e de todos os utensílios,
assegura-lhe que "Todas estas coisas (disse o rei) me foram dadas
escritas pela mão de Deus, para que eu compreendesse todas as obras do
desenho" (Crônicas I, 28, 19). Por conseguinte, viu o modelo
celestial.
O mais antigo
documento referente ao arquétipo de um santuário é a inscrição de Gudea relacionada com o templo por ele erguido em Lagash. O rei vê em sonho a deusa Nidaba
que lhe mostra um painel no qual se mencionam as estrelas benéficas e um
deus que lhe revela o plano do templo. Também as cidades têm seu
protótipo divino. Todas as cidades babilônicas tinham seus arquétipos em
constelações: Sippar, em Câncer; Nínive, na
Ursa Maior; Assur, em Artur, etc. Senaquerib manda edificar Nínive segundo
o "projeto estabelecido desde tempos remotos na configuração do
céu". Não apenas há um modelo que precede a arquitetura terrestre,
mas este, ainda, se encontra situado em uma "região" ideal
(celeste) da eternidade. É o que proclama Salomão: "Mandaste-me
edificar um templo sobre o teu santo monte, e um altar na cidade em que
habitas./conforme o modelo do teu santo tabernáculo, que preparaste desde
o princípio". (Sabedoria 9, 8).
Uma Jerusalém
celestial foi criada por Deus antes que a cidade de Jerusalém fosse
construída pela mão do homem. A ela se refere o profeta, no livro de Baruc, e em outros.
"Crês tu que
esta é a cidade da qual eu disse: Edifiquei-te na palma das minhas mãos?
A construção que atualmente se encontra no meio de vós não é a que se revelou
em Mim, a que já estava pronta no momento em que decidi criar o paraíso e
que mostrei a Adão antes do seu pecado..."
A Jerusalém
celeste acendeu a inspiração de todos os profetas hebreus: Tobias,
Isaías, Ezequiel, etc. Para mostrar-lhe a cidade de Jerusalém, Deus
transporta Ezequiel em um sonho estático e o leva a uma montanha muito
elevada.
E os Oráculos
sibilinos conservam a lembrança da Nova Jerusalém, no centro da qual
resplandece "um templo com uma torre gigantesca que loca as nuvens e
todos vêem". A mais bela descrição, porém, da Jerusalém celestial se
encontra no Apocalipse: (Diz João) "Vi a cidade santa, a nova
Jerusalém, que descia do céu de junto de Deus, adornada como uma esposa
ataviada para o seu esposo"
Mircea Eliade,
O mito do eterno retorno (1951)
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